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Me chamo Brody Polinsky e estas são as minhas tatuagens

Algum tempo atrás, Adrià de Yzaguirre nos disse que gostaria que Brody Polinsky e Michele Servadio respondessem às mesmas perguntas que fizemos a ele, e tivemos a sorte de ter os dois fazendo parte desta série.

Brody Polinksy

A entrevista acabou sendo uma conversa espontânea entre Brody e Michele, que inspirou a série Tattooers Talk de Brody.

PARTE I · Brody entrevistado por Michele.

Você tinha 16 anos quando se apaixonou pela tatuagem, certo?

Sim. Na verdade, 14... tanto faz, era bem novo.

Dificuldades pessoais...

Sim, cara.

E é exatamente daí que vem o seu nome artístico.

Sim, e primeiro tinha que ficar limpo e sóbrio. E isso foi há 13 anos.

Sim, então quando você tinha 29 ...

Foi quando comecei a tatuar, acho

Você começou a tatuar em Vancouver com o Jay Tierney.

Meu mentor, sim.

Já que você tatua há 8 anos, você trabalha à mão livre... não é?

Hum... não, na verdade não. Quero dizer…

Digamos que dá pra notar claramente que há um toque de mão livre em seu trabalho...

Sim, talvez as coisas mais antigas fossem muito mais à mão livre, as paradas de ilustração, o que é uma coisa confusa, então eu desenho as coisas à mão livre a partir disso, mas, para mim, mão livre significa desenhar diretamente na pessoa, começar a desenhar padrões, mas eu gosto de começar com uma coisa um pouco mais estruturada, para então, deixar fluir.

E o seu estilo é definido através de gravuras, padrões, símbolos e pontilhismo, um trabalho geométrico limpo e abstrato. Você acha que…

Eu desconsidero tudo isso, houve um ponto em que gravura era certamente uma parte, mas eu definiria mais como padrões espontâneos que se encaixam no corpo.

Padrões espontâneos, sim, totalmente.

Talvez o processo seja a parte mais espontânea, porque os clientes não sabem o que será feito até que venham para a sessão, eles talvez me digam em que parte do corpo e eu tento criar algo para tatuar nas palmas das mãos.

Foi o que aconteceu diariamente aqui, ultimamente. Onde você está localizado?

Berlim

Uma palavra que melhor descreve como você trabalha:

Espontaneamente.

O que você disse descreve como você trabalha. Está bem. Acho que é um processo criativo espontâneo que envolve padrões e...

Posicionamento (das tatuagens).

E humanos, então o posicionamento é a chave para entender o seu trabalho, de alguma forma.

Como você aprendeu a tatuar?

Eu vi um camarada basicamente fechando o corpo inteiro com tatuagens, estava morrendo de vontade de ser um tatuador, mas no fundo estava atrapalhado em minha vida pessoal. Finalmente eu consegui três estágios em potenciais, e o terceiro acabou dando certo, tive que insistir bastante para que a pessoa apenas me aceitasse, para ficar ali todos todos os dias... sim, eu apenas insisti muito.

O que te inspira em relação à tatuagem?

O processo das pessoas, pessoas que estão fazendo acontecer, pessoas criativas altamente motivadas. Em tatuar pessoas que estão derrubando barreiras, viajando, pessoas que estão saindo pelo mundo e deixando a zona de conforto, pensando no que acontece.

O que é arte?

Se você colocar um "F" na frente de "Art" vira Fart (peido).

Quais tatuadores mais influenciaram o seu trabalho?

Meus queridos amigos. Esta pessoa bem aqui, o Michele, e o Paolo, e o Glue, e… pessoas que correm atrás. Talley e… David é bastante inspirador. Pessoas que possuem perspectivas diferentes, pessoas que são de maneiras diferentes, sabe?

O background é algo que sempre passa batido quando olhamos para o trabalho de alguém, apenas dizemos esse ou aquele estilo, mas nunca sabemos o que está realmente por trás e por que as pessoas estão fazendo um determinado estilo, sempre há uma cultura por trás disso e poucas pessoas estão realmente manifestando isso, eu acho.

Sim eu concordo. A transparência, sendo honesto de onde vem o trabalho.

Então, conte-nos um pouco sobre como é um dia típico para você.

Eu acordo e demora cerca de uma hora até que eu fique sintonizado, é como uma rotina espiritual que eu tenho, e dependendo de onde estou eu vou para o espaço de outra pessoa, e aí é sempre um tiro no escuro, você nunca sabe o que vai rolar. Ou então eu acordo em casa em Berlim e eu já sei o que vai acontecer, e é só calmaria, apenas manifestando minha criatividade, para que eu possa me sentir livre e me conectar com as pessoas mais facilmente. Ou as pessoas vêm a mim porque eu nunca as encontrei, porque eu escolhi não ter muita comunicação antes, e é como um campo realmente neutro, então eu preciso que estejamos juntos, quando eles vêm até mim nossas energias devem combinar para que eu possa me comunicar claramente, de modo que o processo se torne fácil, pois pode ser complicado se houver muitas opções que as pessoas talvez não tenham certeza, mas acho que as pessoas que vêm a mim geralmente são bastante decididas. Sou muito sortudo.

Algum momento mais marcante em sua vida/carreira?

Ficar sóbrio, esse foi o maior, e ao mesmo tempo eu saí do armário. E em particular os últimos três anos, desde que me mudei para cá e conheci meus queridos amigos. Eles me inspiram mesmo que simplesmente andando pela rua, porque pensam de forma diferente, agem de forma diferente. Temos vários níveis de amizade, sabe? Não somos apenas tatuadores na mesma página, ou humanos na mesma página, ou skatistas na mesma página, sabe? Eles têm diferentes perspectivas de vida, e suas vidas antes de me conhecer e nós juntamos tudo isso. E nós pegamos essa vibração de tudo aquilo. Nós andamos de skate em um carro queimado há duas noites.

Quais são os aplicativos, software ou ferramentas sem os quais você não viveria?

A única ferramenta que desejo é um marcador e um lápis. E eu tinha uma folha milimétrica que desenhei à mão, com quadrados de 5 mm. Papel vegetal. Na verdade, uma máquina de estêncil. Eu amo máquinas de estêncil.

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Acho que o que realmente importa é que, contanto que você tenha algo para rabiscar, isso é tudo que você precisa. Digo, você precisa rabiscar algo.

E uma máquina de tatuagem. Eu uso a mesmo rotativa há muito tempo e isso fez uma grande diferença.

Como é a sua área de trabalho?

Parecia que você estava no deserto, porque era tudo no mesmo tom. Era estranho (risos). Eu amo isso, é como uma serenidade. Meu espaço de trabalho é como boa música e chá, e é isso, beber chá e relaxar, e me manter aquecido.

Como você organiza sua agenda de trabalho/lista de tarefas?

Eu sou muito ruim nisso. Costumava ser muito pior, mas agora está melhorando. Eu costumava bagunçar as coisas, agora é uma pessoa por dia em vez de dois, então dobrei a chance de acertar as coisas.

Você tem alguma técnica, truque ou segredo relacionado à tatuagem que possa compartilhar?

Não tenha medo de mudar de estúdio. Sabe, tipo de seguir em frente, você não é casado com o ambiente de ninguém ou com a dinâmica de ninguém, imagine se eu não tivesse continuado adiante...

Você tem que ser livre.

Você tem que ser livre. E ser transparente, ser honesto sobre o que você precisa para si mesmo, isso é muito importante. Eu nem percebi o que eu precisava até que me acertou na cara, e descobri que era um espaço privado. E viajar metade do ano.

Existe alguma coisa que faz você se destacar dos demais?

Foi estranho sair do armário online, durante o verão, a segunda vez da minha vida. Como um grande obstáculo, mas um grande impulso para a frente. Ser realmente transparente e promover a inclusão, você sabe porque.

Ser transparente.

Sim. Porque eu não quero estar preso em uma caixa, mas acho que a ideia de não estar em uma caixa é que não precisa haver uma caixa para ser colocado nela e seja você, você não precisa se associar com ninguém, eu sei quem eu sou, e se eu puder expor quem eu sou, as pessoas que também são assim podem vir me encontrar e, com sorte, se sentirem confortáveis ​​em sua própria pele em meu espaço sendo tatuadas por alguém que tem a mesma opinião, então a ideia de que sou tipo isso ou sou aquilo... skatista, homo, sóbrio pra caralho, sabe, essas coisas são muito importantes para mim, e as pessoas não saberiam disso a não ser que você divulgue.

Como você vê o mundo da tatuagem daqui a dez anos?

Acho que as pessoas vão continuar a deixar de usar cores e vão ficar realmente desgastadas com os últimos anos, um grande câmbio para tatuagens só em preto... É interessante porque algumas pessoas que tatuam no estilo de gravuras estão realmente brilhando, mas então vem todo mundo pulando no mesmo barco, eu acho que vai acontecer o que aconteceu com a tatuagem tradicional americana, todo mundo começou a fazer. 90% dos tatuadores no mundo revivem imagens antigas e não há coisas interessantes o suficiente, então eu acho que pela quantidade de pessoas tatuando esse estilo atual, há um monte de pessoas realmente talentosas fazendo isso, e quanto mais…

É mais e mais e mais pessoas e então fica altamente saturado e acaba ficando... eu não sei, isso acaba me fazendo perder o interesse...

Sim, é difícil se destacar. Mais pessoas vêm, e as pessoas vêm mais fortes hoje em dia, elas não são apenas... elas... sim, acho que ainda mais pessoas de diversas influências virão, o que espero que possa abrir um pouco mais as coisas, mas todos querem se associar com sendo isso ou aquilo, as pessoas que fazem um determinado estilo. Eu acho que daqui a 10 anos as pessoas que estão fazendo bem vão fazer ainda melhor, uma divisão legal porque agora existe uma espécie de campo de jogo nivelado que é algo meio novo.

Sim, e mais e mais pessoas estão fazendo tatuagens, vêem esse trem andando, e simplesmente pulam nele acreditando que podem resolver suas vidas e então chegam ao topo e despencam e você verá que são aqueles que realmente se interessam por todo o pacote da tatuagem: relações humanas, trabalhar nos corpos... não só aplicar este ou aquele estilo na pele, é muito mais profundo, é a pesquisa no ser humano, e acho que quem realmente se interessa por isso terá algo a dizer a longo prazo.

Sim, e acho que toda a situação da tatuagem caseira vai continuar a ficar cada vez maior, e todas as pessoas que estão tatuando apenas por tatuar provavelmente irão cair, eventualmente

Sim, totalmente.

E então você pode ter alguma troca de guardas, outra reciclagem ocorrerá, tenho certeza.

Como você se vê daqui a dez anos? Você estará na ativa? Você estará tatuando em dez anos?

Eu não sei onde estarei. Provavelmente estarei em Berlim, mas não sei. Espero estar em um lugar quente, frequentemente. E gente pra relaxar e ter um casal de cachorros.

E talvez lendo algo. Você está lendo alguma coisa no momento?

Sim, mas eu acho que a coisa mais interessante que terminei é um livro sobre Samuel Steward, esse maldito renegado sexual, tatuador de Chicago, de meados dos anos 40, 50, 60, e o livro se chama Secret Historian. É uma biografia. Ele é um literário, escreveu pilhas e pilhas de livros, fez um monte de homoerótica, ficção e fez parte da Kinsey, foi o principal colaborador da parte homossexual da Kinsey, todo o experimento que ele fez durante todos aqueles anos, e ele parou de tatuar antes da tatuagem se tornar relevante.

O que você faz para recarregar suas baterias?

Vou a encontros e vejo meus queridos amigos. Basta ser bom para o meu corpo, comer bem.

Qual é o melhor conselho que você já recebeu?

Hum... quando você descasca uma banana, descasque-a de cabeça para baixo, ao contrário, como um macaco.

Se você pudesse ser tatuado por qualquer artista vivo ou não, quem você escolheria? O que você faria?

Hoje vou fazer uma tatuagem com você e não sei o que vou fazer, mas essa é a ideia. Hum... Eu faria algo com o Samuel Steward, seria incrível, algo elegante, como uma rosa de talo longo subindo pelo meu peito ou algo assim. Simples.

Com qual tatuador você gostaria que fizéssemos esta entrevista?

O mesmo que você, Michele. Glue e Paolo e Talley...

Há algo que você gostaria de acrescentar que pode ser interessante para nossos leitores?

Saia da Internet.

Leia a PARTE 2 · Michele entrevistada por Brody

Entrevista número IV da série de entrevistas "Estas são as minhas tatuagens".

A série "Estas são as minhas tatuagens" pede aos melhores tatuadores para compartilharem como eles tatuam. A cada poucos dias, apresentaremos um novo tatuador e seus respectivos espaços de trabalho, rotinas, ferramentas, aplicativos, dicas e truques que eles usam. Tem alguém que você gostaria de ver em destaque ou perguntas que acha que devemos fazer? Envie-nos um email para info@tattoofilter.com.

A série de entrevistas "Estas são as minhas tatuagens" é inspirada na série How I Work do Lifehacker.

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