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Me chamo Adrià de Yzaguirre e estas são as minhas tatuagens

Se fizéssemos uma lista dos tatuadores espanhóis mais consolidados, Adrià de Yzaguirre sem dúvida seria um deles.

Catalão radicado em Berlim desde 2011, ele é um daqueles tatuadores/ilustradores que têm um estilo de desenho muito pessoal e faz seu trabalho quase que exclusivamente em preto. Depois de trabalhar como diretor de arte em várias agências de comunicação, em 2011, ele decidiu mudar de sua cidade natal, Barcelona, para Berlim, onde iniciou sua promissora carreira como tatuador.

  • Localizado em: Berlim, Alemanha
  • Estilo: Ilustrativo/Blackwork (em preto)
  • Tatuando desde: 2012
  • Lista de espera atual: 2-4 semanas

Como descreveria sua forma de trabalhar em uma palavra?

Metódica.

Como foi o seu começo como tatuador?

Foi duro, mas muito gratificante. Não sei se por sorte ou azar, não tive acesso a um treinamento tradicional, então tive que aprender sozinho.

Após pouco tempo, arrumei um trabalho como residente em um estúdio aonde eu aprendi bastante, mas também descobri que a minha forma de enxergar a tatuagem não se enquadrava nos moldes comerciais e que eu teria que desenvolver minha carreira por conta própria.

Quais tatuadores influenciaram o seu trabalho?

Quando descobri o trabalho de Valentin Hirsch e Peter Aurisch, percebi que era possível ter seu próprio estilo como tatuador. Essa descoberta me ajudou muito a decidir dar esse salto da ilustração para a tatuagem.

Mais tarde entendi que a tatuagem tem muito mais limitações que a ilustração e comecei a simplificar consideravelmente meu estilo, tomando como referência o trabalho de tatuadores como Eterno ou Slower Black, entre outros.

Conte-nos um pouco sobre como é normalmente o dia do Adrià

Meu dia a dia depende inteiramente se eu tenho que tatuar ou desenhar. Nos dias em que tatuo, sou organizado, limpo e meticuloso. Mas os dias que desenho são muito mais caóticos e geralmente terminam com minha mesa cheia de rabiscos e o chão cheio de papel amassado.

Eu gosto de poder dividir minha rotina dessa maneira para, na medida do possível, tentar ficar alguns dias por semana sem compromissos para poder desenhar como um artista louco.

Qual o momento mais marcante da sua vida/carreira?

Minha vida pessoal e profissional teve muitas mudanças, mas se eu tivesse que escolher um ponto específico, acho que seria o dia em que me mudei para Berlim.

Se não fosse por isso, não teria conhecido minha namorada e provavelmente não teria iniciado minha carreira como tatuador.

Quais são os aplicativos, softwares ou ferramentas que você não pode viver sem?

Eu nunca fui muito fanático por ferramentas de trabalho. Eu sempre desenhei com o primeiro lápis e papel que encontrasse. Acho que é por isso que eu não consigo entender como alguém seja incapaz de trabalhar sem depender de um tipo de material específico.

Ter boas ferramentas torna o trabalho mais fácil, mas tenho certeza de que sem elas eu continuaria desenhando e provavelmente tatuando.

Como é o seu local de trabalho?

Trabalho sozinho em meu estúdio particular, um local espaçoso, mas aconchegante, com piso de madeira, tetos altos e muita luz.

Normalmente, tento não agendar mais de um compromisso por dia. Isso ajuda cada cliente a se sentir em casa e saber que tem toda a minha atenção.

Foto del estudio privado de Adrià en Berlin © Adrià de Yzaguirre

Como organiza a sua agenda?

Sempre que possível, tento não marcar uma consulta até que o desenho esteja pronto. Isso significa que eu normalmente tenho muitos projetos em aberto simultaneamente, mas isso me permite reduzir significativamente a lista de espera e ter vários espaços livres para poder aceitar compromissos espontaneamente.

Alguma técnica, macete ou segredo que possa compartilhar?

Um dos macetes que utilizo para determinar se um desenho está legal é examiná-lo de uma certa distância. Se você consegue entender o que é, considero-o bom. Se não estiver totalmente claro, significa que devo continuar trabalhando para torná-lo mais sintético, limpo e compreensível.

Há algo que o faça se destacar sobre os outros?

Não sei se me destaco sobre os outros, mas sou bom em ouvir e entender o que as pessoas querem dizer. É muito útil quando tenho dúvidas com clientes que não se expressam muito bem ou têm problemas com o idioma. Eles costumam dizer "você consegue explicar o que eu quero melhor do que eu".

Como você vê o mundo da tatuagem em 10 anos?

Eu me pergunto isso constantemente e, sinceramente, não tenho certeza.

O setor está tendo um crescimento semelhante ao que aconteceu na área de design há cerca de 10 anos. Geralmente, acho que isso é positivo, mas pode resultar em um colapso do mercado, levando a um movimento anti-tatuagem.

Mas, se as novas gerações não optarem pela não-tatuagem como forma de se diferenciar dos pais tatuados, a tatuagem pode ser como joia: as pessoas não se definem mais usando ou não joias, já que quase todo mundo as usa . As pessoas são definidas pelo tipo de joia que usam. Barata, cara, extravagante, étnica, extrema, clássica, infantil, colorida, etc... Existem tantos tipos quanto personalidades.

Está lendo algum livro atualmente?

Acabei de ler "Just Kids" da Patti Smith, que gostei bastante, e agora estou meio encalhado com "The Flamethrowers" da Rachel Kushner, que na verdade não estou gostando muito.

O que costuma fazer para recarregar as baterias?

Nadar até que perder a conta de quantas cruzei a piscina

Qual o melhor conselho que você já recebeu?

Não me levar muito a sério.

Com qual tatuador gostaria que fizéssemos esta mesma entrevista?

Michele Servadio e Brody Polinsky são dois dos artistas que conheço que tiveram as mudanças de estilo mais interessante nos últimos anos. Eu gostaria de saber como eles vêem o mundo da tatuagem em 10 anos.

Tem algo que você gostaria de adicionar que possa ser interessante para os nossos leitores?

Usarei essa oportunidade para lançar uma ideia (ou visão) que eu tive há alguns meses, caso algum de seus leitores trabalhe como curador de um museu.

Se a tatuagem continuar se consolidando como aconteceu no mundo da arte, talvez no futuro haja exposições em que as obras não sejam penduradas na parede, mas adornem o corpo de um colecionador de tatuagens, sentado em uma cadeira em uma sala vazia.

Seria incrível poder entrar e conversar com alguém que tenha tatuagens dos melhores tatuadores do mundo e ouvir a história por trás de cada uma deles. Descobrir como as obras envelheceram e ver como elas interagem entre si.

Entrevista número 1 da série Estas são as minhas tatuagens.

A série Estas são as minhas tatuagens pede aos grandes tatuadores que compartilhem seus macetes, segredos, locais de trabalho, rotinas e muito mais. A cada poucos dias, um novo artista compartilha conosco suas diferentes ferramentas de trabalho, software, aplicativos, recomendações e muito mais. Você gostaria que entrevistássemos algum artista em particular? Alguma pergunta que você gostaria de fazer? Escreva-nos em info@tattoofilter.com.

Esta série de entrevistas é inspirada na série em inglês publicada pelo blog Life Hacker intitulada How I Work.

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