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Bêbado, fodido e tatuado: A venda de Sailor Jerry

Imagine se houvesse uma empresa que fabricasse rum, roupas e capinhas de iPhone com a marca Babe Ruth e usasse imagens icônicas da lenda do beisebol de todas as maneiras possíveis.

Tattoofilter BR em História

Este artigo é uma versão traduzida do artigo original em inglês.

Imagine se houvesse uma empresa que fabricasse Rum, roupas e capinhas para iPhone com a marca Babe Ruth e usasse imagens icônicas da lenda do beisebol de todas as maneiras possíveis. Muita riqueza é gerada através de "vacas leiteiras" que já morreram, é o jeito capitalista americano. Mas e se a família do astro nunca fosse contatada antes de o mercado ser inundado com imagens de seu marido/pai? E se eles nunca tivessem recebido um centavo em direitos de imagem?

Sailor Jerry Collins foi, para a tatuagem, o que Babe Ruth foi para o beisebol, um gigante em campo que se tornou o epítome da "velha escola". Ele foi certamente uma figura mítica na minha juventude em meados da década de 1970, depois que passei a ser influenciado por Mike Malone e Kate Hellenbrand, o casal que comprou o estúdio de Sailor Jerry em 1973, depois que ele morreu, aos 62 anos de idade, vítima de um ataque cardíaco. Um verdadeiro patriota americano, Jerry tentou se alistar novamente na marinha aos 30 anos após o ataque de 1941 a Pearl Harbor, mas foi recusado devido a um problema cardíaco. Sailor Jerry odiava os japoneses pelo que eles haviam feito naquela manhã de dezembro, mas ele também tinha uma grande paixão pela arte e filosofia do Extremo Oriente, revolucionando a tatuagem na década de 1960 ao adaptar a forma tradicional da tatuagem japonesa aos motivos ocidentais. Antes de Jerry, "artista da tatuagem" era considerado um oximoro na maioria dos círculos. Era algo carnavalesco.

Sailor Jerry foi um dos primeiros a documentar suas tatuagens através de fotos e um dos primeiros a comercializar tatuagens para mulheres. Sua clientela era composta por cerca de 90% de militares - e ele criou os desenhos de "adesivos do macho alfa" para enviá-los para a guerra com um pouco mais de coragem - mas ele também tatuava obras conceituais que ocupavam todas as costas ou braços, que fez dele o mentor dos tatuadores da geração a seguir, como Ed Hardy, Cliff Raven, Michael Malone, Kate Hellenbrand e Zeke Owen. No ano em que Sailor Jerry morreu, havia talvez um total de 500 tatuadores ao redor do mundo. Em 2014, existem pelo menos 500 somente no centro do Texas.

"No início havia Norman 'Sailor Jerry' Collins, pai da tatuagem americana da velha escola. Então, uma empresa de roupas foi criada para proteger e manter seu legado", lêem as primeiras frases de um comunicado de imprensa anunciando que Iggy Pop agora fazia parte da equipe de design da Sailor Jerry Ltd.

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Eu surgi durante os 25 anos entre essas duas frases. Mas, embora nunca tenha conhecido o homem, ouvi histórias suficientes para saber que Sailor Jerry teria odiado que seu nome fosse associado ao desdenho de punk rockers e bandos de jovens com mais dinheiro do que juízo. A maneira como seu nome, imagem, filosofia e arte são usados ​​para vender todos os tipos imagináveis de produtos, de rum a tênis de skate, é algo que provavelmente deixaria Sailor Jerry doente. Justamente ele que costumava se referir aos tatuadores que buscavam fama e publicidade, como por exemplo Lyle Tuttle, como "prosta-tattoots". O verdadeiro Sailor Jerry - sim, ele era uma pessoa real não um herói folk Bunyanesco que tatuava os rejeitados - odiava hippies e liberais. Ele tocava saxofone e criticava o governo em um programa de rádio noturno que ele apresentou por vários anos sob o apelido de "Old Ironsides". As ilhas havaianas eram "as hemorróidas do Pacífico".

Os tremores subterrâneos no cemitério de Punchbowl, na ilha de Oahu, sem dúvida moveram a terra nos últimos anos, à medida que o homem enterrado lá, conservador com muito orgulho, se tornou um símbolo do estilo de vida moderno. Mas a agulha da escala Richter teria saltado com a afirmação da viúva de Jerry, Louise Collins, de que ela nunca deu permissão para esses usos e que não recebeu nenhum centavo.

Os cineastas de Austin, Angela Lancaster e Paul Galvan, viajaram para Honolulu recentemente enquanto acompanhavam Shanghai Kate Hellenbrand, "a madrinha das tatuagens americanas", e rastrearam Louise Collins, 77, que mora em um apartamento com sua filha. A filha de Sailor Jerry. Em sua primeira entrevista para as câmeras, Louise disse a Lancaster que nunca recebeu nenhum dinheiro como executora dos bens de seu marido, seja da Gyro Worldwide - a empresa da Filadélfia que começou a desenvolver a marca Sailor Jerry em 1999 - ou da empresa escocesa de bebidas William Grant & Sons, que comprou a marca Sailor Jerry em 2008. O rum com especiarias é um sucesso, com mais de 660.000 caixas vendidas em 2013, um aumento de 15% em relação ao ano anterior.

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Malone e sua namorada/sócia na época, Hellenbrand, que possuiam um estúdio de tatuagem na Guadalupe Street em Austin, e pagaram U$ 20.000 a Louise Collins pelo estúdio de Sailor Jerry, localizado na 1033 Smith Street, e todo o seu conteúdo, que incluía os desenhos de tatuagems de Sailor Jerry. Mas será que eles também compraram a "propriedade intelectual" de Sailor Jerry, incluindo seu nome, imagem e os direitos autorais de todas as suas obras de arte? Malone, que faleceu em 2007, e seu parceiro de negócios Hardy, que ganhou milhões no negócio de camisetas, acreditavam que eram donos de tudo que era relacionado ao nome Sailor Jerry. E o Gyro Worldwide, agora chamado de Quaker City Merchantile, parecia confiante de que toda a papelada estava em ordem quando, em 2003, os U$ 20.000 foram entregues a Hardy e Malone por esses direitos. O proprietário de Quaker City, Steven Grasse, gabou-se em 2010 de que tinha feito "um bom dinheiro" quando vendeu o nome e a propriedade intelectual de Sailor Jerry para a Grant & Sons. A Quaker City Merchantile foi contratada para cuidar da publicidade da marca Sailor Jerry, incluindo uma campanha publicitária de TV de U$ 7 milhões.

Mas teria Grasse vendido algo que não possuía? Quando solicitada a comentar, a porta-voz da Quaker City, Laura Price, enviou uma declaração da Grant & Sons afirmando que a compra de Malone em 1973 incluía direitos de propriedade intelectual.

O advogado de Austin, Anderson Simmons, não tem tanta certeza e disse que os direitos autorais, bem como os direitos de publicidade, podem ter sido violados. A lei HRS 482P do Havaí declara que "cada indivíduo ou personalidade tem o direito de propriedade no uso do nome, voz, assinatura e imagem individual". O contrato escrito entre Malone e a viúva de Jerry, Louise Collins, era pouco mais do que um recibo dizendo que Michael Malone comprou a loja de Sailor Jerry e seu conteúdo por $ 20.000. Como o nome da loja foi imediatamente alterado para China Sea Tattoo, a marca Sailor Jerry acabou aí.

"William Grant & Sons tem o ônus de provar qual a propriedade intelectual específica eles compraram e mostrar que o título específico dessa propriedade está associado ao patrimônio do Sr. Collins", disse Simmons. "A menos que eles possam provar que compraram os direitos de publicidade (de Sailor Jerry), ou que o Sr. Malone comprou e depois eles compraram de Malone, eles podem estar violando esse direito de publicidade."

Simmons viu uma cópia da declaração da Grant & Sons e disse que faltava informação. "Não tem nenhum tipo de evidência para comprovar essa posse", disse ele. "Se eles compraram os direitos de publicidade, por que não disseram isso? Em vez de se referir vagamente à compra de 'propriedade intelectual', um termo que nem era comum quando o Sr. Collins morreu em 1973... Duvido que eles tenham um contrato que afirma que eles obtiveram a 'propriedade intelectual' quando compraram o estúdio de tatuagem da família".

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Essa controvérsia sobre quem detém os direitos do nome, imagem e propriedade intelectual de Sailor Jerry não é nova. Shanghai Kate mencionou pela primeira vez em fóruns online em 2009 que Louise Collins estava a um passo de ficar desabrigada, enquanto homens ricos estavam enriquecendo mais ainda com o nome e a reputação de seu falecido marido. A essa altura, Malone estava morto e Ed Hardy recebeu o peso do desprezo de Kate. Seu filho, Doug Hardy, que agora dirige os negócios de Hardy em São Francisco, disparou uma resposta mordaz:

"Mike e meu pai se tornaram os únicos proprietários das obras de arte de Jerry depois que Louise as vendeu (Mike vendeu boa parte das obras de arte de Jerry para o meu pai). Caso contrário, elas teriam se queimado e se perdido... Mike decidiu ganhar algum dinheiro com seu trabalho artístico, primeiro se unindo ao meu pai para fazer os livros Sailor Jerry (que ainda são usados ​​por tatuadores de todo o mundo ) e, mais tarde, em parceria com a empresa de roupas que ainda produz a linha de roupas Sailor Jerry. A empresa de roupas fez um acordo com os produtores de bebidas alcoólicas que fazem o rum, o que aparentemente é um grande sucesso global. Recentemente, a empresa de bebidas alcoólicas comprou os direitos na íntegra, e meu pai e os herdeiros do patrimônio de Mike receberam um pagamento em um acordo que até onde eu sei não é uma grande soma de dinheiro. Mike já vinha vendendo a arte original de Jerry há anos, o que era tanto seu direito quanto licenciá-la, uma vez que ele comprou tudo de Louise anos atrás. É o fim da história".

Talvez. Nem Louise Collins nem os dois filhos que ela teve com Sailor Jerry contestaram a posse do nome de Sailor Jerry e propriedade intelectual no tribunal. Mas, também, faz apenas alguns anos que ela estava em um restaurante e viu uma garrafa de rum Sailor Jerry e se perguntou: "O que é tudo isso"? No início dos anos 70, a tatuagem era uma espécie de sociedade secreta da qual as esposas de fora não pertenciam. Eles não queriam saber o que estava acontecendo, uma mentalidade que talvez permaneça com Louise Collins. Mas podem haver milhões de dólares em jogo aqui.

Sailor Jerry - American Tattoo Master

Ed Hardy escreveu o livro essencial sobre Sailor Jerry em 2004. Após uma longa e informativa introdução, o livro apresenta as cartas que Sailor Jerry escreveu para Hardy, que mais tarde o substituiu como Melhor Artista de Tatuagem dos Estados Unidos. Em uma carta datada de 27 de dezembro de 1971, Jerry parecia já prever o que viria pela frente quando escreveu: "Sempre houve uma espécie de fascinação hipnótica pelas tatuagens, mas até agora ninguém foi capaz te usá-las em trabalhos artísticos, então acho que estamos em evolução no que diz respeito à profissão, embora haja centenas de preguiçosos tentando destruí-la com sua estupidez e ganância... "É a mesma velha história, fazemos os trabalhos artísticos e aumentamos a demanda e os aproveitadores colhem os frutos. E o pior é que a maioria das pessoas são tão cegas esteticamente que não conseguem enxergar a diferença..."

Exatamente como algumas pessoas não conseguem dizer se o legado de Sailor Jerry tenha aumentado ou diminuído por essa superexposição. Ele é famoso, imortal, um nome conhecido por todos. Alguém está ganhando muito dinheiro; Importa quem?

Quando adolescente, trabalhei na ilha Ford em Pearl Harbor; em 1972, tornei-me amigo de um grupo de fuzileiros navais que foram tatuados por Sailor Jerry. Suas tatuagens eram particularmente limpas, coloridas e fodonas, especialmente as pinups. Cada um tinha uma, a garota sexy que nunca vai te deixar. Uma noite, acompanhei um dos fuzileiros navais até 1033 Smith Street e vaguei pela decadente Hotel Street enquanto Sailor Jerry fazia uma tatuagem em meu amigo. Era uma grande faca cravada em suas costas com as palavras "Vá em frente, todo mundo está fazendo isso!" Foi a primeira tatuagem que eu já vi, então nunca a esqueci.

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