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As delicadas tatuagens de Mariló Alonso

Nesta entrevista, a tatuadora radicada em Girona e uma das 100 primeiras artistas a usar nossa plataforma, fala sobre seu trabalho e a indústria

É comum encontrar pessoas que, após estudar arduamente por anos para uma carreira específica, não conseguem mais se ver na profissão que escolheram em um futuro próximo. Os tempos mudam, as pessoas mudam e, feliz ou infelizmente, o caminho escolhido não é mais tão atraente. Foi precisamente o que aconteceu a esta catalã, que desde 2016 se dedica totalmente à ilustração e à tatuagem - e hoje ela vive de fazer o que mais gosta. Talvez seja esse o segredo do seu sucesso.

Como você conheceu o mundo das tatuagens e como decidiu se dedicar a ele?

Eu desenhei minha vida inteira. Embora tenha acabado estudando Engenharia de Obras Públicas, uma carreira muito distante do mundo da arte, sempre sonhei em poder viver da criação artística. Quando terminei a faculdade, passei um ano tentando encontrar alguns cursos que me permitissem explorar a minha veia artística: fiz um mestrado em moda e visual merchandising. Foi um momento em que fiquei bastante perdida, até que, por um acaso da vida, meu namorado me disse que tinha uma máquina de tatuagem que havia comprado anos atrás para testar. Assim, fui incentivada a fazer minha primeira tatuagem em pele sintética. Gostei muito e ficou bem decente por ser a primeira. A partir daí surgiu a ideia de que a forma de explorar minha veia artística poderia ser fazendo tatuagens. Então comecei a praticar em casa e como fui muito boa nisso desde o começo, continuei.

Detalle de un tatuaje de una rosa en el hombro © Mariló Alonso

Há um amplo debate na indústria quando se trata de aprendizagem. O setor mais tradicional defende os 'estágios', mas como é difícil encontrar um mentor, os novatos cada dia mais aprendem por conta própria, principalmente graças a todas as informações disponíveis online. Qual a sua opinião a respeito? Você sentiu a falta de ter feito um estágio?

Acho que essa é uma realidade que todos os tatuadores vivem muito de perto, principalmente os jovens. É verdade que é muito difícil encontrar um mentor. Talvez seja porque exista um certo medo de criar a sua própria competição. No início queria encontrar alguém para me ensinar, porque ter alguém que corrige e ensina te dá muita segurança e te faz aprender muito mais rápido. De qualquer forma, muitos de nós tiveram que aprender por conta própria. As novas tecnologias são essenciais para isso: você pode ver o trabalho de qualquer pessoa a qualquer momento. Isso tem seu lado positivo, pois permite abrir livremente as fronteiras da criatividade, principalmente em termos de estilo. Com um mentor, é muito mais fácil ficar preso a um estilo e aprender técnicas muito específicas. Acho que ultimamente tem havido tatuadores muito bons que fazem coisas muito inovadoras. Nesse sentido, acho que o mundo da tatuagem está enriquecido. Agora é mais fácil para os clientes encontrarem um tatuador que atenda às suas necessidades individuais.

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Suas tatuagens são atualmente de um estilo ilustrativo monocromático com linhas finas. Como seu estilo evoluiu até aqui? Você também tem experiência ou pretende aprender estilos diferentes?

É um estilo que sempre gostei, antes mesmo de começar a fazer tatuagens. Gosto do fino e delicado. Além disso, fico maravilhada com a ilustração clássica, adoro livros antigos de botânica. Nunca fecho as portas para experimentar outras coisas: já coloquei toques de cor em algumas das minhas tatuagens e muitas vezes, como complemento das linhas, utilizo do pontilhismo. Não vejo nada de errado em experimentar outras técnicas, mas tenho bastante certeza que vou permanecer fiel ao que gosto.

E como sua clientela evoluiu nessa época? Você acha que existe uma maior compreensão sobre a cultura da tatuagem ou ainda recebe pedidos absurdos hoje?

Devo dizer que percebi bastante a evolução da demanda. No início, até pela necessidade da prática, eu aceitava quase tudo. Mas com o tempo, parece que meus seguidores e eu evoluímos juntos. É como um ciclo que se cria: aprendi que, se continuo fazendo o que gosto, aparecem pessoas que gostam e cria-se uma espécie de lealdade mútua. Eu acho que a cultura da tatuagem é criada com o vínculo entre você e seus seguidores. Se você sair dessa esfera, parece-me que ainda não existe uma cultura de tatuagem altamente desenvolvida. Ainda recebo algumas... exigências curiosas. E acho que sempre será assim.

Como é geralmente o processo para alguém que deseja fazer uma tatuagem com você?

Criei um formulário web para agilizar o processo. A princípio recebia demandas vindas de diversas formas, mas era insustentável. Eu não conseguia gerenciar bem informações vindas de tantas maneiras. Resolvi então organizar para que tudo fosse recebido por e-mail. Com o formulário consigo entender desde o primeiro momento que tipo de tatuagem uma cliente deseja.

A partir daí, começamos a falar sobre o desenho. Dou a minha opinião sobre composição, tamanho, localização... até chegarmos a um acordo com a cliente (é sempre um esforço conjunto). A última etapa é fechar uma data. Na véspera da tatuagem mando o desenho por e-mail e nesse momento retocamos algo se necessário. No dia seguinte recebo a cliente em meu ateliê e ali, em frente ao espelho, determinamos a posição e o tamanho exato da tatuagem.

Sempre se cria clima muito agradável na hora da tatuagem.

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Você fala de clientes no feminino. É porque você só aceita mulheres ou porque só recebe solicitações de mulheres?

A grande maioria são mulheres, mas eu também tatuo homens. Não recuso ninguém por causa do gênero, mas é verdade que às vezes não aceito os desenhos que alguns caras pedem. Não porque sejam homens, mas porque geralmente não se encaixam no trabalho que eu faço. Resumindo, como 95% dos meus clientes são meninas, prefiro falar "as clientes", para mim é mais lógico.

Este ano foi histórico para o feminismo, o direito à igualdade está cada vez mais sendo reivindicado em todas as indústrias e aspectos da vida. Ainda existe machismo na indústria de tatuagem?

O feminismo está gradualmente entrando em todas as áreas. O mundo da tatuagem não é exceção. Cada vez mais mulheres se aventuram e trazem novas perspectivas que rompem um pouco com o que existia até o momento. Embora ainda haja muito a ser feito, isso já é algo muito positivo. No meu caso específico, devo dizer que nunca encontrei uma situação sexista por parte de colegas ou fornecedores de materiais. Diria até que muito pelo contrário, tenho me sentido muito capaz, validada e admirada pelas pessoas ao meu redor, sejam homens ou mulheres. Por outro lado, tenho sentido um pouco de machismo por parte dos clientes homens, o que é um absurdo já que os clientes são aqueles que vêm até você em busca do seu serviço.

Nos últimos anos também houve casos de mulheres que foram fazer tatuagens e sofreram assédio e até maus-tratos, há como identificar esses predadores? Especialmente ao entrar em contato pela primeira vez, existem indicadores que soam os alarmes?

Infelizmente, ainda é um problema encontrado em muitas áreas, senão em todas. Pessoalmente, não tive experiências ruins em fazer minhas tatuagens então não posso dizer exatamente como identificar esse tipo de pessoa. Tenho a impressão que não existem mecanismos para identificação, porque na realidade não existe um perfil exato. Acho importante buscar referências sobre o tatuador se é a primeira vez que vai tatuar com ele. Da mesma forma, se algo acontecer com você, DENUNCIE. É importante que, se houver alguém fazendo esse tipo de coisa, que seja exposto e as medidas cabíveis sejam tomadas contra ele. Portanto, denunciar é essencial.

Depois de 2 anos, você percebeu que o setor mudou desde que você começou?

A verdade é que dois anos não te dão uma perspectiva tão ampla para notar mudanças no setor. Embora, como já dissemos, pareça haver um público que a princípio não se encaixaria no que se considera a tatuagem clássica, mas que agora está sendo alcançado graças ao estilo de linhas mais finas. As redes sociais também estão permitindo que os artistas se especializem cada vez mais em um estilo específico, já que nossa vitrine (Instagram por exemplo) atinge todo o planeta Terra.

Como você acha que será essa evolução nos próximos 5-10 anos?

É difícil prever o que virá nos próximos anos, mas acredito que teremos uma indústria cada vez mais aberta e adaptada às demandas de todos os tipos de pessoas.

Para terminar, tem algo que você gostaria de acrescentar?

Acrescentaria apenas que graças a comunidades como a Tattoofilter, que sabem aproveitar o potencial da Internet e das redes sociais, o conhecimento da body art se prolifera. Existe uma maior colaboração entre tatuadores e isso enriquece o nosso mundo.

Se quiser acompanhar o trabalho dela, suas turnês, ou entrar em contato com a Mariló para fazer sua próxima tatuagem, clique aqui.

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